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Fui no Itororó... Achei água, ecletismo, originalidade e criatividade.

Se você foi criança, então é certo que você ouviu “Fui no Itororó (ou Tororó) beber água e não achei! Achei bela morena que no Itororó deixei”.


O Itororó da cantiga, que em tupi significa “água barulhenta” ou “jorro d’água”, existe, mas não se sabe exatamente onde. Há ribeirões com este nome em diversos municípios brasileiros, entre eles São Paulo.


O Ribeirão do Itororó de São Paulo nasce na região do Bixiga e deságua no Ribeirão do Anhangabaú. Deu nome a uma vila, construída entre 1915 e 1929 pelo tecelão português Francisco de Castro, formada por um palacete e outras 37 casas, voltadas para o pátio central, onde acontecia a vida coletiva.

Palacete da Vila Itororó. Fonte: Acervo Estadão

Fonte: Canteiro Aberto Vila Itororó

Na concepção e construção da vila, seu idealizador empregou idéias inéditas à época, como a piscina de uso coletivo, que era abastecida com água do próprio Itororó.


O uso de elementos de demolição de outras edificações, entre elas o incendiado Theatro São José, localizado onde hoje fica o edifício Alexandre Mackenzie, o Shopping Light, também foi novidade. Desde estátuas enriquecendo fachadas, diferentes esquadrias, postes de iluminação utilizados como pilares, até portões de ferro como elementos estruturantes de lajes, substituindo os usuais vergalhões, podem ser vistos nas edificações.


Outra ideia foi sua autossuficiência econômica, por meio do aluguel das casas que serviria para manter o palacete e seu empreendedor.


O local tornou-se ponto de encontro político e sede de festas da sociedade paulistana no “Palácio do Bixiga”, que terminavam na piscina de madrugada.


Fonte Canteiro Aberto Vila Itororó

Com a morte de Castro em 1950, seu patrimônio foi tomado por credores e doado à Fundação Leonor de Barros Carvalho, da Santa Casa de Indaiatuba. O aluguel continuou sendo cobrado até 1997, quando a cobrança cessou e a Fundação abandonou a propriedade.


A partir de então, a vila foi invadida e transformou-se em um grande cortiço, com ocupações irregulares e construções improvisadas, degradando-se ao longo do tempo.


Hoje restam 11 edificações e o palacete, infelizmente em péssimas condições.



Por solicitação do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), datada de 1981, com a justificativa de tratar-se de um marco da ocupação espontânea da cidade, na forma de habitações coletivas, o tombamento da Vila Itororó se deu em 2002 pelo CONPRESP e em 2005 pelo CONDEPHAAT.


Em 2006 foi desapropriada por ter sido considerada área de utilidade pública, para vir a tornar-se um complexo cultural após restauro. Em 2011 seus moradores, mais de 100 famílias, foram realocados em moradias sociais no centro da cidade.


A vila em 2011. Fonte Folha de São Paulo

A restauração foi iniciada em 2013, realizada através de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e o Instituto Pedra.


Nesta obra, o que também é inédito, enquanto fazem levantamentos, elaboram os projetos e executam as obras, mantém o “Canteiro Aberto”, literalmente, para compartilhar o conhecimento gerado no local e para debater os possíveis usos, respeitando a história e as necessidades futuras.


O empreendimento será realizado em 5 fases pela necessidade de captação de verba. A ideia é que, ao término das obras, a Vila Itororó se torne um polo de cultura, onde haverá um Centro de Memória da cidade, um centro tecnológico de pesquisa, haverá moradias artísticas e ainda uma cozinha pública em uma das casas, onde serão ministradas oficinas sociais.


Segundo Diogo Viana, coordenador da gestão cultural do projeto, a primeira fase será entregue entre outubro e novembro deste ano, quando serão abertas as Casas 5, 6, 7 e 11 e quando se inicia a etapa de captação de verba para as próximas. O palacete será revitalizado na última fase. A piscina também será restaurada, em uma das últimas fases. Haja ansiedade!


Casas restauradas. Acervo pessoal.

Enquanto isso, existem diversas atividades abertas e integrativas entre público e Vila Itororó, como aulas de yoga, oficinas, apresentações de jazz e mais. Tem visitas mediadas às obras, que acontecem de quinta a domingo, às 16h00. Não é preciso fazer inscrição, apenas assinar um termo de responsabilidade, usar o capacete cedido e vestir sapatos fechados.


Já funciona na Casa 8 o estúdio da rádio Saracura.net, que tem seu nome em função de outro curso d’água da região.



Funciona também o Fablab Livre SP, de terça a sexta, das 9h00 às 18h00 e sábado das 9h00 às 13h00. Lá são ministradas oficinas de marcenaria, mas também pode ser agendado um horário para você utilizar as ferramentas, como tico-tico, parafusadeira, serrote japonês etc.


Há controvérsias!


Como nem tudo são flores... o projeto de transformar a Vila unicamente em um centro cultural e gastronômico é questionável pelos que consideram que não foi respeitada a vocação inicial da Vila, ou seja, moradia.


Nas conversas abertas à sociedade para discussão do futuro da Vila, foi apresentado um projeto de edifício de 70 unidades habitacionais, integrado à Vila, criado pelo Mosaico, escritório modelo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, porém este não evoluiu.


Questiona-se o poder público sobre como combater a gentrificação, que representa o enobrecimento de locais populares após ações de renovação urbana, de forma que os antigos moradores perdem as condições econômicas de habitar o mesmo local e são obrigados a migrar.


O processo de desapropriação é outro ponto polêmico. Segundo o site Brasil de Fato, moradores, auxiliados pelo Serviço de Assessoria Jurídica da Universidade de São Paulo (Saju), entraram com pedido de usucapião e, de acordo com o Estatuto da Cidade, toda ação de desapropriação deve ser paralisada automaticamente se houver um processo de usucapião pendente. No caso da Vila Itororó, não foi o que ocorreu. A desapropriação foi concluída, ainda que os processos de usucapião estivessem correndo.


Te faço dois convites. Visite a Vila e veja com seus próprios olhos. Então, deite em uma das redes do Canteiro Aberto e pense sobre o uso pretendido para ela. Quais devem ser os objetivos de um restauro de patrimônio? Tire suas conclusões e, se quiser (eu ficarei bem feliz), as compartilhe aqui.


Redes do Canteiro. Ao fundo, os Padrões da Vila


Fontes pesquisadas:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_Itororó

https://acervo.estadao.com.br/noticias/lugares,vila-itororo,12119,0.htm

http://vilaitororo.org.br/

https://avosidade.com.br/curiosidades-sobre-cantigas-brasileiras/

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2011/10/992022-prefeitura-de-sp-remove-ultimas-familias-da-vila-itororo.shtml

https://observasp.wordpress.com/2015/05/13/vila-itororo-canteiro-aberto-para-novas-formas-de-morar/#more-964

https://www.brasildefato.com.br/node/1373/

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/noticias/?q=vila+itororo

http://www.portaldobixiga.com.br/vila-itororo/

http://www.saopauloantiga.com.br/vila-itororo/



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